Artigo jornal Le Monde, 31 de Agosto de 2017, publicado ontem as 8 horas
O pais produz 300.000 toneladas /ano da fibra altamente cancerígena , responsável segundo a Organização Mundial da Saúde , de 107.000 mortes por ano.
Por Claire Gatinois, São Paulo, correspondente.
A mina de Cana Brava, propriedade e exploração da SAMA S.A., que faz parte do grupo Eternit.
Em Miniaçu, no norte do Estado de Goiás, dia 17 de Janeiro de 2013. Ueslei Marcelino/REUTERS.
Alguns minutos após o escrutínio , o nome dos quatro juízes execrados circulavam nas redes sociais com a seguinte legenda : “ Aqui estão os nomes dos juízes do STF em favor do câncer e da morte”. Quinta 24 de Agosto , estes magistrados da mais alta jurisdição brasileira , tinham se pronunciado em favor do prosseguimento da utilização do amianto no Brasil, impedindo que este material responsável de câncer da pleura de abestose, -grave infeção pulmonar – e certos tipos de canceres do pulmão, seja definitivamente banido no Brasil.
“Em quanto cidadã só posso ficar revoltada , após todas estas mortes ” comenta , indignada, Fernanda Giannasi, ex- inspetora do Ministério do Trabalho , chamada de “ Erin Brockovich do Brasil”, que consagrou mais de trinta anos da sua vida a dar voz as vitimas do amianto.
Este material cujas qualidade de resistência e de flexibilidade são excepcionais , provoca segundo a Organização Mundial da Saúde,107.000 mortes a cada ano. No Brasil, Francisco Pedra, pesquisador da Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ), no Rio de Janeiro, já contabilizou 3700 mortes entre os anos 1980 e 2010.Este numero está sem duvida subestimado, diz ele . “O amianto foi utilizado em larga escala na construção de telhados , caixas de agua , divisórias...Ele esta disseminado em todo o Brasil .Os canceres levam dezenas de anos para se revelar.”
Produtor e exportador do material, o Brasil, só possui uma mina de amianto no estado de Goiás, explorada pelo grupo Eternit. “ Até que ponto o país chegou ! Imaginem que uma mina que emprega 150 trabalhadores justifica matar centenas de pessoas não somente no Brasil mas no mundo inteiro. O Brasil exporta a metade das 300.00 toneladas produzidas aqui por ano. É uma exportação da morte !...” comenta indignado o pneumologista Hermano de Castro, entrevistado pela revista Época, dia 23 de Agosto.
Batalha interminável
No país ,uma lei federal de 1995,autoriza ainda o uso “controlado” do amianto branco ,crisotila. Mas alguns estados brasileiros tais como o Estado de São Paulo, ou do Rio de Janeiro , proíbem totalmente o mineral. Obstinada, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Industria (CNTI) tem processado estes Estados que baniram o amianto, considerando que estão em contradição com a lei de 1995.Segundo as vitimas, a CNTI , defende em realidade os interesses dos profissionais do amianto. Em particular os interesses os da Eternit, que não quis se manifestar.
Tentando encerrar esta interminável batalha jurídica , e consciente dos elementos em contra do amianto, o STF finalmente se debruçou sobre a pertinência da lei federal de 1995.A guerra parecia ganha. “O relator da matéria teve este argumento razoável de dizer que frente as provas hoje irrefutáveis dos canceres provocados pelo amianto, a lei de 1995 viola a Constituição Brasileira que deve garantir ao trabalhador a sua saúde e um meio ambiente equilibrado” explica Marc Hindry, vice presidente do Comité anti –amianto da Universidade de Jussieu , em Paris, que acompanhou os debates.
Mas o Brasil é costumeiro de reviravoltas. “Dois juízes retomaram argumentos obsoletos de um pseudo cientista comprado pela indústria ”,comenta indignada Fernanda Giannasi. No final a lei foi considerada inconstitucional por cinco votos a quatro , eram necessários seis votos para a lei ser revogada. A decisão mergulha o país numa situação inédita.
Após um momento de desanimo, os militantes anti –amianto ,adotaram uma posição mais otimista. A decisão apesar de tudo, está em favor deles: a indústria estará doravante condenada nos tribunais, e o mercado do amianto esta desmoronando. Apos ter sido condenado em mais de 60 países, e abandonado por industriais zelosos de sua reputação , tais como o grupo francês Saint Gobain, que no passado estava presente no Brasil, o material deixou de ser um investimento econômico interessante. “Ainda levara tempo mas vamos ganhar . Este é o rumo da historia...”,garante Fernanda Giannasi.
Fonte: Le Monde
Versão original em francês:
31 de Agosto de 2017 Le Monde
Publié Hier à 08h00
Le Brésil ouvre la voie à l’interdiction de l’amiante
Le pays produit 300 000 tonnes par an de la fibre hautement cancérogène, responsable selon l’Organisation mondiale de la santé, de 107 000 morts chaque année.
Par Claire Gatinois Sao Paulo, correspondante
Temps de lecture : 3 min
La mine Cana Brava, détenue et exploitée par SAMA SA, fait partie du groupe Eternit.
A Minacu, dans le nord de l’état de Goias, le 17 janvier 2013. Ueslei Marcelino / REUTERS
Quelques minutes après le scrutin, le nom des quatre juges honnis circulait sur les réseaux sociaux avec pour légende : « Voici les juges de la Cour suprême en faveur du cancer et de la mort. » Jeudi 24 août, ces magistrats de la plus haute juridiction brésilienne venaient de se prononcer en faveur de la poursuite de l’utilisation de l’amiante au Brésil, empêchant que ce matériau responsable de cancers de la plèvre, d’asbestose – grave infection pulmonaire – et de certains cancers du poumon soit définitivement banni du Brésil.
« En tant que citoyenne on ne peut qu’être révoltée, après tous ces morts », enrage Fernanda Giannasi, cette ex-inspectrice du travail surnommée la « Erin Brockovich do Brasil » qui a consacré plus de trente ans de sa vie à faire entendre la cause des victimes de l’amiante.
Ce matériau dont les qualités de résistance et de souplesse sont exceptionnelles ferait, selon l’Organisation mondiale de la santé, 107 000 morts chaque année.
Au Brésil, Francisco Pedra, chercheur à la Fondation Oswaldo Cruz (Fiocruz) à Rio de Janeiro, a recensé 3 700 décès entre 1980 et 2010. Un chiffre sans doute sous-estimé, dit-il. « L’amiante a été utilisé dans la construction de toits, de citernes d’eau, de cloisons… Il est disséminé dans tout le Brésil. Les cancers peuvent mettre des dizaines d’années à se révéler. »
Producteur et exportateur du matériau, le Brésil ne possède plus qu’une seule mine d’amiante, dans l’Etat de Goias, exploitée par le groupe Eternit. « A quel point le pays en est-il arrivé ! Imaginez qu’une mine qui emploie 150 travailleurs justifie de tuer des centaines de milliers de personnes non seulement au Brésil, mais dans le monde entier. Le Brésil exporte la moitié des 300 000 tonnes produites ici par an. C’est une exportation de la mort ! », s’indigne le pneumologue Hermano de Castro, directeur de l’école nationale de santé publique de Fiocruz, interrogé par la revue Epoca le 23 août.
Interminable bataille
Dans le pays, une loi fédérale datant de 1995 autorise encore l’utilisation « contrôlée » de l’amiante blanche, la chrysotile. Mais certains Etats brésiliens, tels ceux de Sao Paulo ou de Rio de Janeiro, interdisent totalement le minerai. Acharnée, la Confédération des travailleurs de l’industrie (CNTI) lance depuis le début des années 2000 des procédures contre ces Etats, les estimant en contradiction avec la loi fédérale. Au dire des victimes, la CNTI représente en réalité les intérêts des professionnels de l’amiante. En particulier ceux d’Eternit, qui n’a pas souhaité s’exprimer.
Tentant de clore cette interminable bataille judiciaire, et consciente des éléments à charge contre l’amiante, la Cour suprême s’est enfin penchée sur la pertinence de la loi fédérale. La guerre semblait gagnée. « Le rapporteur du dossier a eu cet argument raisonnable de dire qu’au regard de la connaissance désormais irréfutable des cancers provoqués par l’amiante la loi de 1995 viole la Constitution brésilienne qui doit garantir au travailleur la santé et un environnement équilibré », explique Marc Hindry, vice-président du comité anti-amiante de l’université Jussieu à Paris, qui a suivi les débats.
Mais le Brésil est coutumier des coups de théâtre. « Deux juges ont repris des arguments obsolètes d’un pseudo-scientifique acheté par l’industrie », s’emporte Fernanda Giannasi. Au final la loi a été jugée inconstitutionnelle par cinq voix contre quatre. Il en fallait six pour que le texte soit révoqué. La décision plonge ainsi le pays dans un vague juridique inédit.
Après un moment d’écœurement, les militants anti-amiante ont toutefois repris espoir. La décision est, malgré tout, en leur faveur : l’industrie aura désormais tort devant les tribunaux, et le marché de l’amiante s’effondre. Après avoir été interdit dans plus d’une soixantaine de pays, et mis de côté par les industriels soucieux de leur réputation, tel le français Saint-Gobain autrefois présent au Brésil, le matériau a cessé de représenter un enjeu économique. « Il faudra encore du temps mais nous allons gagner. C’est le sens de l’histoire », assure Fernanda Giannasi.
Fonte: Le Monde